Capítulo 6: Senioridade se Prova na Prática e na Evolução
Por Cesar Zanis
"Saber fazer é bom. Saber por que faz e continuar aprendendo é o que faz diferença de verdade."
Sabe aquela pessoa que resolve qualquer bug, conhece todos os atalhos do editor e sabe mais siglas que o RH? Parabéns - tecnicamente, ela é excelente.
Mas isso, sozinho, não faz dela sênior.
Ser sênior não é sobre tempo de casa. Nem sobre colecionar certificados. É sobre gerar valor com propósito. É sobre entender o negócio e continuar evoluindo com ele.
Já trabalhei com um desenvolvedor brilhante. Dominava tudo. Mas aceitava qualquer demanda que o PO trazia. Não questionava. Não entendia o contexto. Só executava.
O reflexo?
Uma entrega que deveria levar duas semanas virou um projeto de cinco meses. Cada sprint parecia uma variação da mesma coisa. A área de negócio reclamava. O time desanimava. Ninguém sabia onde estava o problema e ele estava logo no começo.
Conversei com ele. Incentivei a mudar a chave: Parar de só receber. Começar a entender. A perguntar:
- "Que problema isso resolve?"
- "Como isso impacta receita, cliente ou operação?"
- "Se não fizermos agora, o que acontece?"
Hoje ele entrega mais rápido, mais certeiro. Virou referência. E mais do que isso virou alguém que ensina clareza para o time.
E quer acelerar ainda mais essa maturidade coletiva? Use o Job Rotation Estratégico.
Não precisa de workshop nem planilha de controle. Faça o desenvolvedor passar uma semana com o financeiro. O analista sentar com o comercial. O tech lead acompanhar o suporte. Quando o time entende o todo, ele codifica melhor. Prioriza melhor. Entrega melhor.
Só que tem um ponto crítico que muita empresa ignora: Senioridade não é um título fixo. Ela precisa ser alimentada.
Você já viu o júnior com brilho no olho? Chega querendo aprender. Pergunta tudo. Anota mais do que precisa. Às vezes, falta técnica. Mas sobra algo raro: fome de evolução.
E aí tem o outro lado: O sênior que já viu de tudo e por isso parou de olhar. Já passou por falha em produção, crise com cliente, projeto que muda toda semana. Mas está no modo automático. Com frases prontas:
- "Já tentamos isso antes."
- "Não é minha função."
- "O problema é o negócio, não o time."
É o sênior de pantufa. Sabe muito. Mas não se desafia mais. E aí? Arrasta o time para trás.
A real é que a gente também tem ciclo de vida profissional: Você começa com potencial. Cresce. Matura com a experiência. Mas se parar de evoluir... entra em declínio. Mesmo que o cargo continue lá.
A boa notícia? Produto desatualizado é descontinuado. Mas a gente pode se reinventar.
A senioridade de verdade está no equilíbrio:
O júnior com espaço para errar, aprender e crescer. O sênior com a missão de continuar evoluindo e puxar o time junto.
Na próxima demanda, antes de aceitar no automático, pare e pergunte:
- "Essa entrega resolve o quê?"
- "Impacta quem?"
- "E se a gente não fizer... o que muda?"
E se puder, dê um passo além: Troque de cadeira por uma semana. Veja o impacto real do seu trabalho fora da tela. Entenda o negócio. Aprenda com quem vive na outra parte dele. Ensine. E reaprenda.
Porque no fim, ser sênior não é saber tudo. É nunca parar de enxergar além da sua tarefa. E nunca esquecer que conhecimento que não evolui... vira peso.
Quem veste chuteira inspira. Quem se acomoda de pantufa trava o time.