Capítulo 11: Ética, Confiança e Brechas que Ninguém Vê

Por Cesar Zanis

"Sua reputação é o único ROI que ninguém pode tirar mas que pode ser perdido em uma brecha mal cuidada."

Tem coisa que a gente faz porque dá resultado. Tem coisa que a gente faz porque é o certo. E tem coisa que a gente escolhe não fazer mesmo que paguem bem. Essa é a tal da linha de corte.

Ao longo da carreira, aparecem atalhos: projetos obscuros, propostas tentadoras, esquemas com lucro fácil. E aí surge a pergunta que separa o profissional do oportunista: "Você quer construir algo que te orgulhe ou apenas algo que te enriqueça?"

Já recusei propostas de plataformas de aposta, mineração de dados sem consentimento, sistemas com duplo propósito. Tecnicamente? Interessantes. Financeiramente? Tentadores. Mas não estavam certos.

Você lidera pelo que entrega e também pelo que recusa fazer. E a ética, assim como a cultura, é contagiosa. Quando você aceita o atalho sujo, o time aprende que resultado importa mais do que caráter. Quando você sustenta a linha mesmo em silêncio o time entende que valor sem responsabilidade é risco disfarçado de sucesso.

E às vezes, o perigo não vem de fora. Vem de dentro. Eu vi isso acontecer.

Alguém próximo da liderança. Alguém com acesso. Alguém em quem confiávamos. Usou o sistema o processo que ajudamos a criar para fraudar. Enquanto a gente pensava em facilitar a operação, essa pessoa facilitava para si mesma.

E mesmo sem ter culpa direta, sobrou para mim porque eu era da TI, porque era o sistema, porque era mais fácil apontar para quem desenhava o fluxo do que para quem corrompia. Aquilo me machucou. Psicologicamente mesmo. Na época, achei que tinha falhado.

Hoje, entendo: a falha não foi confiar nas pessoas. Foi não projetar considerando que sempre existe alguém disposto a usar uma brecha - se ela existir.

A lição foi dura, mas clara:

Desde então, toda solução que eu ajudo a construir passa por esse filtro:

Porque no final, não é sobre desconfiar do time que você tem. É sobre proteger o futuro do time - inclusive daqueles que ainda vão chegar.

No mundo real, não basta confiar. Tem que prever. E tem que proteger. Confiança é valor. Mas controle é proteção. No mundo de produtos, processos e tecnologia, sistemas maduros equilibram os dois.

Porque no fim, o que protege sua reputação não é só a ética que você pratica. É a responsabilidade com que você fecha as brechas que alguém um dia - vai tentar usar.

Quem lidera com ética protege o presente. Quem fecha brechas protege o futuro. E quem faz os dois... constroi respeito que atravessa qualquer crise.